A 21ª Câmara de Direito Privado do Rio determinou que o Google retire do ar em até 48 horas todas as matérias que repercutem a entrevista em que a atriz Letícia Spiller falou sobre as acusações de assédio sexual que pesam contra o ex-diretor do Núcleo de Humor da TV Globo Marcius Melhem.
Em dezembro de 2020, Letícia Spiller conversou com o programa "Reclame na Play" sobre o assunto. Caso o Google não cumpra a determinação, terá que arcar com uma multa de R$ 10 mil por hora de atraso.
Em sua participação no programa "Reclame na Play", Letícia Spiller foi questionada pela apresentadora Bruna Calmon sobre as acusações de assédio contra Melhem e respondeu que as mulheres que acusam o humorista teriam demorado para denunciá-lo, permitindo que ele se tornasse "o cara" perante a opinião pública. Um dos convidados da atração complementou Letícia: "o mártir". Letícia, então, concordou. "Né? O mártir dessa situação".
Ainda na entrevista, Letícia Spiller afirmou conhecer o ex-diretor e relatou que ele sempre foi uma pessoa "muito querida" e "de bom coração". De acordo com a atriz, no dia seguinte ao papo no "Reclame na Play", alguns veículos distorceram suas falas e afirmaram que ela estava defendendo Marcius Melhem. Ela também contou que seu perfil no Instagram foi tomado por inúmeras mensagens de ódio após a publicação das matérias repercutindo a entrevista.
O desembargador relator da sentença, Gabriel de Oliveira Zefiro, afirma que Letícia Spiller em momento algum defendeu o ex-diretor e também não criticou as mulheres que o acusam de assédio.
"A atriz não afirmou que Marcius Melhem tem um bom coração, mas sim que era dura a decepção decorrente de uma acusação tão grave contra uma pessoa que ela reputava, no passado, quando o conheceu, ser uma pessoa correta e de bom coração. Com efeito, a atriz não afirmou que ela, pessoalmente, questionaria o motivo da demora na denúncia de assédio. Apenas afirmou que se tivesse acontecido com ela, ela denunciaria imediatamente e explicou que assim agiria para evitar justamente a desconfiança de muitas pessoas", iniciou.
"Ao contrário, a agravante apenas sinalizou a importância de se denunciar os abusos sexuais o mais rápido possível, justamente considerando a dificuldade de se provarem condutas como essas, que geralmente ocorrem sem a presença de testemunhas, além de haver preconceitos sociais, notadamente de ordem machista, que dificultam a correta elucidação dos fatos", finalizou.
Marcius Melhem era o diretor do Núcleo de Humor da TV Globo quando foi denunciado por Dani Calabresa ao compliance da emissora, em 2019. Um inquérito policial foi aberto em 2020 pela Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro para apurar as denúncias. O ex-diretor também move um processo por danos morais contra Dani Calabresa.
Dani e mais mulheres falaram abertamente sobre o assédio que alegam ter sofrido em entrevista ao "Metrópoles". Recentemente, a atriz Carol Portes, que fazia parte do elenco do "Zorra", disse em entrevista ao "Uol" que também foi assediada por Marcius Melhem.